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Donata Meirelles: “Eu gosto da vida. É isso que coloco no meu trabalho”, diz a artista Beatriz Milhazes

O outono de 2021 foi cheio de cor nas obras da artista brasileira de maior sucesso internacional



Beatriz Milhazes sorridente sentada no chão com as pernas cruzadas em frente a uma parede decorada com desenhos geométricos e coloridos. Ela veste uma blusa azul de mangas compridas, calça preta e acessórios discretos. O ambiente tem um ar artístico e descontraído, com elementos que remetem a um estúdio de arte.


Um dos nomes mais importantes da arte contemporânea mundial, a carioca Beatriz Milhazes foi motivo de duas retrospectivas em São Paulo. Uma no Masp e outra no Centro Cultural Itaú. Em 2021, ela atendeu um chamado do outro lado do mundo e expôs na China, em setembro. Mas também teve Viena no roteiro e Nova York na agenda.  Enquanto sua arte é sucesso  global, Beatriz diz gostar mesmo de ficar em seu ateliê – duas casas geminadas em uma bucólica rua do Jardim Botânico, no Rio – mantendo seu trabalho exuberante em constante evolução.  


Donata Meirelles:  Como foi a mostra na China? 


Beatriz Milhazes: Foram trabalhos inéditos de pintura, colagem e duas esculturas, que fizeram parte da mostra no Masp, além de um desenho que ocupou a lateral de vidro do Long Museum, em Xangai. Esse nicho é uma espécie de vitral, como em uma catedral, e vai  estabelecer um diálogo entre a colagem e a pintura. No mesmo dia da abertura na China, foi apresentada a pintura que fiz sobre a porta de ferro corta-fogo do palco da Ópera de Viena. E também trabalhei para uma outra exposição, em setembro do ano que vem, na Pace Gallery, em Nova York.   


DM: Como foi reencontrar sua própria obra?


BM: A partir de 2001 começaram a fazer mostras panorâmicas da minha obra, mas essa, por ter sido a maior, foi extremamente emocionante. E as duas mostras foram espetacularmente montadas por Adriano Pedrosa (Masp) e Ivo Mesquita  (Itaú Cultural).  Encontrar a própria história é um momento único e faz parte do processo de criação do artista. Na verdade, eu me considero uma cientista, porque quero meu trabalho em constante evolução. 


DM: Como você lida com o sucesso?


BM: Eu adoro, mas meu foco é sempre o trabalho. O artista deve colocar seu desenvolvimento em primeiro lugar. Apesar de gostar do sucesso, não acredito nele porque a vida é todo dia, um dia após o outro. O mundo ao seu redor muda e é preciso tomar cuidado. Esse olhar diferenciado muitas vezes altera a pessoa diante do sucesso. Eu continuo a mesma. Com ajustes, é claro. 


DM: Você é expoente da Geração 80 de artistas brasileiros. Como vê o legado do grupo?


BM: Foi um movimento importante, artística e politicamente. Queríamos a liberdade de existir sem nos preocuparmos com regras ou censura. A Geração 80 representou a possibilidade da livre expressão. Por isso trouxe novas questões para o pensamento da arte brasileira e revelou muitos artistas realmente importantes.


Coluna publicada na edição 87, lançada em maio de 2021.



Donata Meirelles é consultora de estilo, atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle 




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