Esta semana em #AMulherdeSucessoResponde, Carolina Etlin, advogada especializada em Direito de Família, apoiadora dos Direitos Humanos, engajada em política social e entusiasta do Caminho de Santiago.
Tudo começou quando, aos 15 anos, Carolina Etlin fez um intercâmbio estudantil nos Estados Unidos e caiu em um colégio onde havia uma representação da Anistia Internacional – organização não governamental de proteção e defesa dos Direitos Humanos – e foi identificação à primeira vista. A menina brasileira engajada politicamente, não só se envolveu lá, como tratou de conseguir um trabalho no escritório da entidade quando voltou para São Paulo. Sua função basicamente era escrever cartas, para diversos governos do mundo onde havia casos de abuso dos direitos humanos. “Sempre quis ajudar as pessoas e o trabalho na Anistia Internacional era chamar atenção das autoridades para esses casos, já que havia milhares de pessoas envolvidas nos vários escritórios e células da AI em todo o mundo. Nossa principal arma era a palavra escrita”, explica.
No trabalho, conheceu Rodolfo Konder (1938-2014), conhecido jornalista e ativista dos Direitos Humanos, que a apresentou ao jornalismo, outro caso de amor à primeira vista: “Eu havia descoberto que as palavras têm força”, diz, mas como pretendia ser “a” jornalista política e aproveitando que o diploma do curso não era obrigatório para ingressar em uma redação, prestou vestibular para o curso de Direito, na PUC-SP. A princípio, se encantou com o Direito Penal e chegou a se preparar para se tornar delegada, porém acabou se especializando na área de família.
“Trabalhei durante um ano em um escritório especializado em acordos e separações amigáveis. Aí, achei que a minha vida merecia mais emoção do que isso”, observa em seu tom sempre bem-humorado. Através do ex-chefe, conheceu a dra. Priscila Corrêa da Fonseca, especialista em litígios e foi trabalhar com ela em seu escritório durante sete anos. A experiência teve a consequência inevitável, a abertura do escritório próprio, em 1998.
Como habitar a zona de conforto nunca fez o estilo de Carolina, ela prossegue em seu propósito de adolescência: ajudar o próximo. Portanto, continua apoiando não só a Anistia Internacional, como também a Human Rights Watch, entidade que se encarrega de investigar e reportar violações à Carta dos Direitos do Homem em todo o mundo.
Durante a quarentena, além de reservar as sextas-feiras para uma movie night em família – verdadeiro festival doméstico de filmes organizado por gêneros e diretores – Carolina se envolveu em um programa de cestas básicas para a população carente, com alimentos orgânicos. E como não se adaptou para a versão online das aulas de dança que fazia diariamente, decidiu iniciar duas pós-graduações: Direito Penal e Criminológico e Filosofia. Sem falar a agenda profissional que anda agitada acima do normal, já que houve aumento considerável no número de divórcios durante a pandemia.
Como se nada disso fosse o bastante, ela se envolveu totalmente na reestruturação do Cevat (Centro de Visitas Assistidas do Tribunal de Justiça), um espaço anexo ao Fórum do Tatuapé – na Zona Leste paulistana – destinado ao acolhimento de pais e filhos impedidos de conviver por suspeita de risco à integridade física e psíquica dos jovens. “Era um local que estava desassistido e desorganizado. Levamos um ano para captar recursos, reformar, organizar e capacitar psicólogos e assistentes sociais e retomar o atendimento em novas bases”, conta, informando que depois da reinauguração, em fevereiro último, já existe uma intensa procura pelos serviços e, em breve, será rebatizado como Casa de Família.
Mas a vida de Carolina não é só família, trabalho e serviço social. Ela também gosta de viajar, na verdade ela possui um destino favorito: o Caminho de Santiago de Compostela, que fez cinco vezes! E já está com tudo organizado para a sexta caminhada, quando a pandemia passar. “Quando fiz 40 anos, como não gosto de festa – sempre acho que não vai aparecer ninguém – decidi convidar sete amigas para fazer o caminho comigo”. Outra paixão fulminante que a levou a se tornar habitué da rota e recomenda para todo mundo a viagem.
Por que? Ora, “porque é um momento de introspecção quando posso pensar na vida. Aliás, o caminho é extasiante e uma metáfora da vida, porque nem sempre é fácil, nem sempre é bonito, tem momentos muito bons e outros nem tanto”, descreve. Já levou inclusive sua tia, de 70 anos, para acompanhá-la: “Ela adorou e disse que a sensação foi a de ter sido abduzida”, diverte-se. Aliás, Carolina se diverte muito e o tempo todo. Seu humor é inabalável. Para ela, amor e humor são fundamentais.
A seguir, Carolina Etlin, mulher de sucesso responde:
Qual o seu maior exemplo de Mulher de Sucesso?
Eu adoraria dizer que é a Rainha Elizabeth, aquela menina franzina e tímida que teve o grandioso destino alterado e definido pelas escolhas dos outros, mas que soube assumir esse enorme papel e enfrentar todo tipo de adversidade, conflitos, literalmente mundiais, tanto na vida pessoal como na profissional, trazendo com habilidade e perseverança, talvez sua maior conquista, a casa real e a monarquia para o século XXI. Mas a verdade é que, apesar de ser icônica e sem dúvida uma mulher de enorme sucesso, não me relaciono com a realidade da monarquia ou da sociedade inglesa. Minha mulher de sucesso é aquela que conheço, que consegue manter seus vários pratos girando, sem deixar cair. O da mulher, da mãe, da profissional, da esposa, da amiga, da filha. Não se esperava da mulher o ‘sucesso’ em todas as áreas, até a melhor profissional, no fim, acabava sendo julgada mesmo pelo sucesso de seus filhos. Hoje a exigência é ainda maior, pois não basta ser mãe, arrimo de família, a mulher de sucesso também precisa ser uma profissional. Acumulamos papéis.
Qual sua ideia de felicidade no trabalho?
Pode parecer piegas, mas fazer o que se gosta e ainda ter paixão pela atividade que se pratica é sem dúvida a maior felicidade, ou mais do que isso, um privilégio. Não é nada fácil encontrar o que se gosta de fazer e ainda por cima no timing que a vida exige de nós, especialmente quando se precisa pensar na sobrevivência. As atuais e irreversíveis mudanças nas profissões e a chegada para ficar da inteligência artificial são motivos de grande angústia e preocupação com o trabalho, especialmente para os mais jovens e para aqueles que, ainda na meia idade, e sem reservas, se descobrem obsoletos ou substituíveis.
Eu achava que sucesso era… mas descobri que sucesso é…
Eu achava que sucesso era encontrar o equilíbrio entre todos esses papéis, e descobri que… estava certa! Quando vejo mulheres bem-sucedidas em suas carreiras, mas frustradas nas relações pessoais, familiares, ou vice-versa, fico triste e lamento que tenhamos lutado tanto pelos mesmos direitos e oportunidades e, no final, o que conseguimos foi apenas acumular responsabilidades e potencializar frustrações. Para os homens, vejo que o sucesso está diretamente relacionado ao que ele faz, às suas realizações práticas, espera-se do homem, sobretudo, o sucesso profissional, o que também não deve ser nada fácil.
Depois da pandemia qual será a mudança mais significativa na sua área de atuação profissional?
Acredito que não haverá um ‘depois da pandemia’. Os efeitos da pandemia já se instalaram e vieram pra ficar: trabalho remoto, enxugamento dos espaços e dos profissionais, policiamento digital, todas são mudanças permanentes. Na minha área, vejo que os divórcios ocorrerão mais e com maior rapidez. Será mais fácil tomar essa decisão e reconstruir a vida. Se sobrevivemos à uma pandemia, o resto será fichinha.
Se você pudesse escolher um superpoder, qual seria?
O do apaziguamento, o da generosidade. Imagine acabar com a maldade do mundo, com os conflitos, com o egoísmo, com a ganância! Onde houvesse uma guerra, um conflito, uma disputa, eu seria chamada e, num passe de mágica, assim, as pessoas estariam se abraçando e concordando em construir, renovar, melhorar, mesmo que para o outro, até todos estarem bem.
Que tipo de hábito ou exercício você recomenda para desligar ou aliviar sua mente?
Dançar, dançar, dançar. Terapia, comer, dormir bem. Sexo. Caminhar, caminhar, caminhar. Trabalhar, ler, meditar. Dar risada com bons amigos. Jogar xadrez. Depois começar tudo de novo. Não necessariamente nessa ordem.
Qual a mensagem que você gostaria de deixar para as próximas gerações?
Sejam bons, cordiais, altruístas. Leiam, reflitam. Tudo passa, o bom e o ruim. Gosto da lição de Guimarães Rosa e penso nela sempre:
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.
Com Mario Mendes e Antonia Petta
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
Acompanhe a Donata Meirelles no Instagram: @donatameirelles
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